Home
Sobre Antonio Miranda
Currículo Lattes
Grupo Renovación
Cuatro Tablas
Terra Brasilis
Em Destaque
Textos en Español
Xulio Formoso
Livro de Visitas
Colaboradores
Links Temáticos
Indique esta página
Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Foto: www.guiadasartes.com.br 

 

NELSON PADRELLA

 

 

(Rio de Janeiro, 1938) é um pintor, desenhista e escritor brasileiro estabelecido no Paraná.

Padrella sempre viveu ativamente o panorama cultural brasileiro, escrevendo livros e participando de certames literários, enquanto colecionava prêmios com sua pintura e seu desenho, apresentados inclusive na Bienal Nacional de São Paulo.

As Mandalas, quadros representando vórtices, movimentos dinâmicos emocionais e simbólicos, datam dos anos 80. Foi a sua descoberta da arte abstrata. No início, eram trabalhos escuros, cinzentos, angustiantes.

Ainda nos anos 80, no começo da década, desenvolveu intensa colaboração como roteirista de histórias em quadrinhos para a Grafipar, sediada em Curitiba.

Com a primeira viagem à Europa, em 1991, a pintura do artista ganhou uma nova dimensão. Lá, reencontrou suas raízes e, suas telas "renasceram" em cores vibrantes. A primeira tela, medindo 1,25 m x 1,05 m, levou o nome de Montechoro, um vilarejo situado no Algarve. É uma homenagem à memória dos avós paternos, oriundos de Portugal. Antes de pintar Barcelona, lembrança dos avós catalãos, criou uma colcha de retalhos com as cidades visitadas. Em novas viagens à Europa, o artista ficou mais fascinado ainda, criando uma coleção de cidades europeias na sua obra.

Em 2002, passa a fazer parte do TheArtGallery, um grupo de artistas plásticos curitibanos com pelo menos 20 anos de carreira dentro e fora do Brasil e que resolveram somar esforços numa mesma direção, a arte.

Em junho de 2006 foi homenageado pela Câmara Municipal de Curitiba, com voto de Louvor e Congratulações, pelo lançamento do livro A Arte de Nelson Padrella.

Biografia: wikipedia

 

 

 

 

BACK, Sylvio.  Cinquenta anos. Díário do Paraná. Edição fac-similar.  Capa : Guilherme           Mansur.  Reprodução fotográfica: Cadi Busatto. Coordenação gráfica: Rita de Cássia Solieri Brandt.  Projeto gráfico: Adriana Salmazo Zavadniak.  Curitiba, Paraná:  Itaipu Binacional, 2011.  S. p.  Inclui 7 folhas dobradas  94 x  1,26  cm., com imagens de páginas do suplemento literários dos anos 1959 – 1960, acomodadas numa caixa de papelão 35x 48 cm.  Ex. bibl. Antonio Miranda. 

 

 

homem parado

 

Queria reconstruir a paisagem do sonho
e viver no sorriso longínquo
e nas mãos abandonadas

 

possuir todos aqueles gestos
e o riacho de areia branca no fundo

e repetir eternamente o dia em que cheguei
aquela hora exata em que vi teu sorriso
e em que tuas mãos medrosas não buscaram as minhas

(a paisagem foi tudo para mim!
o que daria para ficar parado no tempo
naquela hora exata em que vi teu sorriso)

Às vezes acredito que a Vida tenha parado
tudo se desvanece e volto àquele instante.

Então, um menino solta do trem e corre  abraçar o sonho
a areia branca do fundo do rio
os pinheiros da mata
o sorriso e as mãos abandonadas.

A mesma cena fica se repetindo sempre.

Sou o menino que corre pelo interior dos anos
buscando o azul...
a areia branca
os pinheiros da mata
o sorriso distante
as mãos imóveis.

 

 

 

*

p o e m a s

 

Os homens. E quem são os homens?
(o que importa a vida?)
Levaram num caixão
a criança que nasceu há 60 anos.
Sessenta anos de vida
e que importa a vida?
se falasse, diria que não se conformava.
Ter uma vontade enorme de ser fazendeiro,
[comerciante, andar fazendo biscate
ou ser tanta coisa
mas tinha que ser trágico
descobrir misérias e tristezas
na ânsia de encontrar o que ninguém  encontrou
e está em toda parte, no homem, na mulher,
numa criança que dorme, numa árvore, no
[campo, no ar, nas vozes do mundo, no nada.
Poderia ser alegre e autêntico fazendo queijo
e quis ser trágico buscando a poesia
quis ser trágico
quis ser trágico.
Uma criança dorme, um homem passa, uma
folha cai da árvore, passa um enterro
(um passarinho canta, eu respiro, vivemos)

-----------------------------------------

Poema publicado em 31 de julho de 1960
----------------------------------------------

 

 

o homem do retorno

 

Vi tuas mãos infantes segurando água do rio
fiquei sentado na grama olhando tua vida
menino e sonho
segurando areia branca menino e sonho
— os pinheiros e a tarde olharam minha tristeza
meu corpo de homem traído
jogado no descampado
trem da infância que tantas vezes vi passar
ainda apito distante que ouço na memória
tudo passou na continuação da vida
ficaram os pinheiros e as saudades
—lembrança de tanta coisa
um dia o filme todo passa em reprise
os que fui e o que sou
Homem   Menino
esse desespero de compreender a vida
e encontrar alguém.
Eu quero tua vida
há um instante há uma hora qualquer no meio da vida
em que a gente procura uma garrafa de cachaça
—quero ficar guardando a saudade e o nosso tempo
quero ficar te guardando
eu me lembro de ti e de tua tristeza
aquela tristeza tão tua eu amei
Deviam botar um anúncio: “é proibido LEMBRAR!”
nesse instante em minha terra
deve ter uma mulher lavando roupa no rio
eu tenho tua cara no meio dos meus poemas
meu Deus! ficar te lembrando e saber que nunca mais
como areia branca do fundo do rio que foge dos dedos
(“pinheiro, dá-me uma pinha
pinheiro, dá-me um pinhão”)
quero teus olhos mesmo de pedra
nesse instante que parece vazio
choveram rosas e eu não vi
a lua foi dura no céu.
Houve um momento em que eu quis erguer os braço
no meio da rua
e gritar: “meu Deus! meu Deus! e agora?”
mas fui para casa se murmurei: “e agora?”
(deve ter uma mulher lavando roupa no rio)
Agora
voltarei à minha aldeia
vou escrever sonetos.
Antigamente tanta coisa não importava
e eu vivia
pego minha tristeza e vou descobrir a américa.

 

Poema publicado em 18 de setembro de 1960

----------------------------------------------------

 

p o e m a

 

Por um amor tão grande um copo de cachaça
nas rodinhas os amigos comentavam
até falaram da desvalorização do cruzeiro
e consequente alta do dólar.
Alguém disse que venderam o Brasil
e ficaram pelas mesas
bebendo cachaça nacional.

Quando saíram pelo meio da noite
ele sentiu que naquela pátria
— que era a sua —
havia um problema maior.
Olhou bem a noite
olhou bem os amigos
— que eram homens sem preço —
e teve vontade de lutar
porque compreendeu todas as coisas
ou porque não compreendeu mais nada e
[ficou maluco.

 

Poema publicado no dia 23 de outubro de 1960.

 

 

poema para amanhã cedinho

 

Nessa hora da noite
em que até o pão tem um gosto agressivo de cigarro
lembro que um dia disse:
— mãe! Vou ser soldado.


Minhas botas têm um gesto de espera
e a farde jogada sobre a mesa
anula um gesto qualquer de liberdade.

A vida espia nas frestas da parede
e este corpo — velho camarada —
aguarda a ordem de ataque ou fuga
sem ânsia e sem paixão.

 

Sinto que há tambores silenciosos
e fuzis na noite
que a voz de comando ficou guardada
para um instante melhor.

 

Minhas botas e a farda esperam
testemunhas pacíficas da luta
sinto que há um brilho de ódio
no silêncio das esperas.

 

Poema publicado no dia 20 de novembro de 1960

 

 

t e n t a t i v a

Tudo é ontem
e o ruído do “jazz” enlouquecido
morreu na alegria das horas
nos lábios sangue,
aconteceu o espanto da descoberta
e o beijo
passou no momento.

Apenas ficou na testa
no silêncio penumbra
no pó tristeza
dançando entre mesas abandonadas
sem tempo
e sem nada

A solidão é o maior vazio da vida
e as bandeirolas presas nas paredes
foram figuras passivas
decoração.

A fuga no gesto fantasma
foi tentativa
a amplidão voou
desmaiada
e um gesto doido, doido
foi fechar a janela
um gesto doido, doido, doido
— vida, não fuja!
um gesto doido.

Poema publicado no dia 18 de dezembro de 1960
----------------------------------------------------------------------

 

poema-definição

 

 

O campo é o mar
tão longe
não posso pegar
e teu retrato e teus olhos andarilhos
foram testemunhas de acusação.

— Menina Célia, onde vais
com teus olhos andarilhos
levando a consolação da tarde?


Fui músico e fui poeta
fui pintor de retratos e alpinista
fui um pouco besta e bastante qualquer coisa
sempre encontrei consolação na tarde
antes dos teus olhos


pensei que havia um caminho
pensei que havia uma estrela

mas o campo é o mar
é como teus olhos perto
que não posso pegar

sou louco e é louco que pulo
sou puro e assassino
matei minha vida
sou santo de igreja.

Nós dois somos o mundo
somos aquela procissão de falsos crentes
somos aquela prostituta verdadeira

tenho duas mãos e um sonho
lá fora o instante havia parado
e era tudo tão macio, menina Célia
tão calmo era o céu, tão verde a mata
tão lindos teus dois olhos andarilhos
que descobri que amava em desespero.

 

--------------------------------------------
Página publicada em 26 de março de 1961
--------------------------------------------


 

VEJA e LEIA outros poetas do PARANÁ em nosso Portal:

http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/parana/parana_index.html

 

Página publicada em fevereiro de 2021


 

 

 
 
 
Home Poetas de A a Z Indique este site Sobre A. Miranda Contato
counter create hit
Envie mensagem a webmaster@antoniomiranda.com.br sobre este site da Web.
Copyright © 2004 Antonio Miranda
 
Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Home Contato Página de música Click aqui para pesquisar